terça-feira, 15 de outubro de 2019

Meu nome


I

Tudo seguia tranquilo
muito tranquilo
o murmúrio lá fora dizia
que tudo seguia bastante tranquilo

então fiquei calmo e sereno
qual superfície de um rio bem tranquilo
ou feito a pessoa sentada sem pressa
à margem do curso de um rio bem tranquilo
ouvindo somente o murmúrio dizendo
que tudo seguia bastante tranquilo
e aquilo era fácil de se constatar
no espelho sereno das águas do rio

seria impreciso ou sem força dizer:
não sei quanto tempo essa calma durou?

É que de repente – que coisa espreitava
do espelho sereno das águas do rio? –
uma voz lá de dentro chamou por meu nome:
um nome que eu nunca cheguei a ouvir
um nome que eu não sei nem pronunciar
um nome que eu não imaginava existir
era o meu nome que vinha de dentro
do espelho sereno das águas do rio

Não mais o murmúrio,
apenas um grito
contínuo
vibrando
vibrando –

as coisas tremendo
o grito ecoando
feito uma faca:

era o meu nome

II

Ninguém escolhe o nome que tem, mas é nele que pensam quando lembram de alguém.

III

Tomara que os nomes sempre nos lembrem do que é feita sua matéria: violência.

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